segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Roda de Convivência e Cultura de Paz chega ao Portal da Amazônia


A Roda de Convivência e Cultura de Paz chegou à Belém do Pará, cidade considerada o Portal da Amazônia, em 17 de outubro para desenvolver a atividade no Ponto de Cultura Argonautas. Os Argonautas surgiram nos anos 90, em uma conjuntura de intensos debates e abertura da sociedade civil para a questão ambiental na Amazônia, no contexto da Eco 92. De 1989 a 1991, a realização de Encontros Nacionais Estudantis na Universidade Federal do Pará e Universidade Federal do Maranhão e o Encontro Nacional dos Povos da Floresta (coordenado pela CUT-CPT-CDDH) para discutir a questão, deram origem ao núcleo ambientalista que formou os Argonautas, em agosto de 1992 e lançou o Manifesto Eco-universitário no campus da UFPA. A atividade sensibilizou militantes dos movimentos sociais e chamou a atenção para a necessidade da sociedade civil local em se articular e participar ativamente das discussões de ações de defesa do meio ambiente e da Amazônia, mobilizando a comunidade para a consolidação da cidadania, da democracia participativa e do desenvolvimento sustentável.
A equipe das oficineiras chegou à Belém em um momento fundamental na história da cidade e de seus moradores: o período da celebração do Círio de Nazaré. Expressão de fé adotada pelo povo paraense que se destaca pela romaria dos fiéis, exibe também apresentações de músicas e danças. Conforme o relato dos próprios paraenses, participantes da Roda de Convivência, o Círio é um pedido de Paz ao Mundo; uma manifestação de alegria e gratidão na perspectiva da fé cristã, devoção e calor humano. Reflete a magnitude de uma festa popular considerada mais importante que o próprio Natal, no qual todos transcendem a própria humanidade em louvor e entrega ao sagrado, via feminino, concretizado na imagem da Nossa Senhora de Nazaré.
A Roda começou ao ar livre. Para que o grupo se aproximasse, foi posto em prática um jogo de reconhecimento em que todos e todas participaram ativamente. Em seguida, compuseram o mapa da convivência, onde o tema da Cultura de Paz surgiu naturalmente, revelando um forte sentimento de companheirismo e solidariedade. Sobre o conceito de convivência um dos participantes afirmou: “O conflito também gera aprendizado, está para o desenvolvimento, você só consegue se desenvolver se dialoga. O conflito dentro da convivência é irrefutável porque como eu costumo falar todo consenso absoluto é burro, então você precisa dialogar, entrar em conflito às vezes para poder avançar.” José Maria Reis, o ZehMa, do Argonautas.
“A cultura de paz une pessoas de diversos lugares, regiões e municípios no seu bem comum. No meu caso, o esporte (skate) as pessoas passam tempos sem se ver, mas acabam se confraternizando naquele evento que acontece. É passado, transmitido, uma energia positiva, conversando, trocando idéia (…) não deixa de estar inserido nisso, na cultura de paz, várias culturas diferentes, juntos ali e confraternizando, naquele evento”, Joélsio Araújo Silva, jovem presidente do Movimento dos Skatistas.
No momento em que os participantes são orientados pelas oficineiras a escolher o objeto que pudesse revelar a compreensão do grupo sobre a Cultura de Paz, soam os sinos da Basílica e todos lembram a importância, para o povo paraense, das celebrações do Cirio de Nazaré. “Pra mim a paz é essa ciranda, o que você pode passar no abraço. Ela começa em ti, mas não termina em ti (…) Então essa Roda simboliza exatamente isso, todo mundo veio para cá para entender exatamente o que é (…). Essa relação cria a paz que se estabelece, que é transmitida por cada um de nós somos. A gente conecta num olhar, numa ação e isso fica. Então a paz está simbolizada por essa conexão, por essa harmonia, por essa cultura de paz que começa e não termina”, afirma Samir Raoni, do Argonautas.
Depois de muito conversarem, o grupo escolhe como objeto simbólico a água. Sobre esta escolha, Nahyzze Nascimento, dá um depoimento emblemático: “Tenho 27 anos e vou todos os anos a Macapá. Lá vi uma ilha crescer, era pequenina e agora está imensa. Eu perguntei a meu pai como isso acontecia e ele disse que o passarinho vai e vem levando pequenos pedaços de plantas e aquilo vai crescendo, crescendo. Estamos no meio da água, encontramos um banco de areia e as sementes vão caindo e brotando, os passarinhos vão ajudando espalhando. Por isso escolho a água. Isso é um processo muito comum na Amazônia, as ilhas nascem aparentemente do nada”.
Com a Roda se aproximando do final, os jovens compartilharam suas impressões. Eles destacaram a importância de frear a correria diária para se ouvir, dialogar e se conhecer. Parar, sentar e escutar o outro, o que torna o momento mágico e possibilita viver intensamente tudo que a Roda pode proporcionar. Momento que contribui para a construção da cidadania, a militância na área ambiental e em tantas outras representadas ali.
Dos diálogos, idéias e percepções que vieram à tona na Roda, surgem como propostas a ampliação do Programa Cultura Viva para intercâmbio entre pontos de cultura regionais e interestaduais; o incentivo às micro políticas culturais de articulação local, entre os pontos de cultura, para construção e fortalecimento das metodologias artístico-culturais desenvolvidas nos coletivos; e a atenção as diferenças étnico-raciais dos povos que compõem o norte do Brasil visando abrir canais de comunicação com o poder público local e estadual para amplo alcance da igualdade racial e de gênero.
O grupo pede também que as oficineiras falem um pouco sobre a experiência das outras Rodas de Conversa já realizadas pelo Pontão, como uma maneira de conhecer a realidade cultural de outros jovens brasileiros. Um dos participantes observa a necessidade de manter os diálogos interculturais que favorecem a criação de políticas públicas na cultura. Ele propõe também um intercâmbio com o Pontão de Convivência e Cultura de Paz, a partir de uma visita de alguns jovens de Belém para aproximação ou realização de oficinas no Instituto Pólis.
O encontro se encerra com a apresentação das meninas do Conexão Feminina, que com suas músicas retratam a condição da mulher, os valores femininos, bem como a desigualdade de gênero.
Para mais informações sobre os Argonautas, acesse www.argonautas.org.br

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